"...os hotéis são a minha casa, e quando me instalo num quarto de hotel, é um costume tão antigo, que em três minutos faço dele minha casa de verdade, com pouquíssimas coisas, como se sempre tivesse vivido ali, fazendo dele meu quarto habitual, onde vivo, com todas minhas manias, todos os espelhos cobertos e alguma coisa mais, a tal ponto que, se alguém puser na cabeça que, de repente tenho que viver num quarto de uma casa, se me derem um apartamento todo arrumadinho, com cara de casa de família, o transformaria, assim que nele entrasse, num quarto de hotel, só para ali poder viver, como de costume - que me dêem algo parecido a uma velha cabana, como nas fábulas, no fundo de uma floresta, com vigas grossas, uma grande chaminé, grandes móveis nunca vistos, cem mil anos de antigüidade, assim que nela entrar, com poucas coisas e pouquíssimo tempo, deixo-a como um quarto de hotel, onde me sinto em casa, coloco todos os móveis amontoados na frente da chaminé, escondo as vigas, mudo completamente o seu suposto bom gosto, tiro tudo aquilo que nunca existiu em parte alguma, exceto nas fábulas, os odores especiais, os odores das famílias, e as pedras velhas, e as madeiras negras e velhas, e os cem mil anos de antigüidade que riem de tudo, que te fazem sentir estrangeiro, que não te deixam nunca sentir-se completamente em casa, eu tiro tudo, e a antigüidade também, porque sou assim, não gosto daquilo que me lembra que sou estrangeiro, embora o seja um pouco, suponho que se nota, já que não sou completamente daqui ..."
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